sábado, 11 de outubro de 2008

Rosana Paterno-dez anos da morte do poeta catarinense Lindolf Bell



Foto enviada pela autora :Bell, em praça púbica, leva Poesia aos cidadãos, o que hoje é usual.

Na próxima Terças Poéticas, apresentarei Lindolf bell, o poeta catarinense de Timbó.

Rosana , que trabalha no CMLB, vai me enviar uns brindes para sortearmos e mandei comprar outros.

Local:Jardins do palácio das Artes, em Belo Horizonte, 14/10/2008, às 18 horas.

Ao término,iremos ver a mostra de Iara Abreu, na Biblioteca Muncicipal, onde poemas são por ela ilustrados.Sou uma das Poetas convidadas por ela.Temática urbana, um grande livro aberto/

Abaixo, o texto vibrante sobre bell, de Rosana Paterno Moreira:

Poesia

Versos cheios de crença

Em 2008 se completam dez anos da morte do poeta catarinense Lindolf Bell, o criador da Catequese Poética

O menino cresceu entre as lavouras e os versos e aprendeu a ler em alemão por meio de uma suntuosa bíblia alemã de 1892, com a dedicação de uma mãe bondosa e amante da poesia. Foi com ela que aprendeu a elaborar os próprios sonhos, a amar as palavras e construir através delas.

Lindolf Bell era um garoto simples, nascido no interior de Santa Catarina, numa cidade chamada Timbó - a cidade que leva o nome de um cipó.

Com o irmão mais novo, Orlando, criou um elo de amizade forte que o ajudou a suportar a perda da mãe, sempre muito doente, anos mais tarde.

Na juventude, porte altivo e promissores olhos azuis, o garoto amante da poesia foi servir à Pátria no Estado do Rio de Janeiro, capital do País na época. Chamava atenção pela aparência bela, pelos lábios que, além de sensuais, transbordavam poesia, ainda numa fase tímida, mas constante. Lá, pela primeira vez declamou poema, no juramento à bandeira.

Do Rio a São Paulo foi um breve passo. Lá, iniciou sua carreira profissional num escritório de contabilidade, por ter se formado em Blumenau no Colégio Santo Antônio. Mas foi breve sua passagem pelo mundo dos números, pois o mundo ao qual sempre pertenceu era o das palavras. Carregava consigo o sonho de transformar a realidade da poesia, estagnada e precisando encontrar seu público-alvo: todo ser humano.

Em 1964, após estudar na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Rio de Janeiro e se formar em dramaturgia em São Paulo, deu a largada no que podemos chamar de revolução da poesia, com seu movimento único e marcante denominado "Catequese Poética". O objetivo deste movimento era trazer a poesia ao cotidiano, fazer com que ela se tornasse parte essencial à vida, aos amores, à história de cada um; colocá-la no peito, nos lábios, no ar, nos muros, na música, nas escolas, nas boates e até nos presídios; lançá-la ao vento para ser colhida e acolhida pelos passageiros da vida e do tempo, que estivessem cansados e sedentos da palavra com forma e conteúdo.

Como líder deste movimento, Bell foi reconhecido e aclamado. Outros escritores, poetas, estudantes, cantores e artistas juntaram-se ao movimento, dando-lhe corpo e estrutura para que o poema surgisse em todos os cantos e em todas as avenidas. Recitais diversos pipocaram na sociedade da época da ditadura, trazendo o poema à sua nova realidade: de instrumento da sociedade, de crítica, de declaração, de necessidade urgente de dizer e se fazer entender.

Este movimento respingou em todas as partes e revolucionou a forma de acessar a poesia, pois a poesia passou a acessar o homem e a tirá-lo de seu momento de letargia para um momento de expressão viva e contagiante.

O poema ganhou espaço nas ruas, nas letras das músicas, nas camisetas-poema, nos painéis de ônibus, placas, perfumes e até pacotes de pão. A sociedade passou a respirar poesia e a incorporá-la como uma ferramenta da linguagem flexível às mais diversas formas de expressão.

Mas Bell ainda não estava completo, precisava ir além do poema. Ao conhecer Elke Hering o destino lhe proporcionou um mundo tão instigante quanto o mundo do poema: o universo das artes. Juntos, após oficializarem a união, construíram em Blumenau, terra de Elke, a primeira galeria de artes do Estado de Santa Catarina, a Açu-Açu. Ela, artista plástica e gravurista, foi companheira de Bell em Iowa em um programa do renomado Paul Engle, do qual participaram juntos com diversos escritores do mundo todo. Tiveram três filhos juntos: Pedro, Rafaela e Eduardo.

Na Açu-Açu, Bell atuou como proprietário-marchand e crítico de artes pela ABCA e Aica (Associações Brasileira e Internacional de Críticos de Artes), elaborando textos sobre artistas diversos ao longo de sua carreira, auxiliando e sendo referência à carreira de muitos deles.

Da Açu-Açu pode-se extrair currículos diversos de artistas em início de carreira, aqueles que Bell incentivava por ser profundo conhecedor da capacidade artística, até diversos artistas consagrados.

Escritor de 15 livros, criador de praças de poemas, painéis-poema e eventos diversos aliando arte e poesia, Bell se tornou um ícone da cultura catarinense ao projetar Santa Catarina em nível nacional e até mesmo no exterior, participando de eventos da poesia, como na Colômbia, em companhia de Haroldo de Campos.

Em 1998, então com 60 anos, e em plena atividade profissional, Bell sofreu um aneurisma na aorta e foi submetido a uma cirurgia, cuja recuperação não foi satisfatória, levando-o à morte. Este ano completam-se dez anos sem Bell, dez anos sem a Açu-Açu.

Aquela que foi sua residência nos primeiros e últimos anos de sua vida, hoje é o museu Casa do Poeta Lindolf Bell, mantido pela Fundação Cultural - de Timbó. Desde 2003, o local tem uma vasta agenda cultural, homenageando o poeta dentro do Projeto 10 Versus 70, que visa a fazer um paralelo entre os dez anos de morte com os 70 anos de vida que Lindolf Bell estaria completando este ano.

* Rosana Paterno Moreira é responsável pelo Centro de Memória Lindolf Bell na Casa do Poeta Lindolf Bell, em Timbó.


ROSANA PATERNO MOREIRA*

leia :
http://achamarteblogspotcom.blogspot.com
http://clevanepessoaeoutraspessoas.blogspot.com

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