domingo, 6 de julho de 2008

Ladrões de Flores-Estanislau Filho



José Estanislau, que conheci em um Cultura em Movimento, do UNIAC e de quem li,em Crônicas do Cotidiano Popular suas deliciosas histórias,envia-me um de seus textos, que divido com os leitores e conta-me que pretende, neste no, lançar mais livros:"lançamento ainda este ano, se possível um duplo lançamento: Todos os Dias são Úteis (poesia).".

Leiam suaa prosa, coroada com um poema:



"LADRÕES DE FLORES
J.Estanislau Filho
Eles roubavam apenas flores das Chácaras Vale das Acácias, onde
costumavam passar os finais de semana acampados à sobra de pau
d'óleos, pequis e ipês, em busca da energia positiva da natureza, para
recuperar as forças subtraídas durante a semana em um trabalho de
Sísifo na agitada metrópole.
Caminhavam pelas estradas irregulares do chacreamento atentos à
diversidade do cerrado, conversando com os pássaros, distribuindo
sorrisos e cuidados aos seres frágeis de uma região agredida pela
insanidade humana. Pisavam o chão com leveza, pois estavam convictos
de que sob seus pés havia vida em profusão e a morte de um único ser
infinitésimo colocava em risco a vida do planeta.
Os insensíveis os tinham como lunáticos, os desconfiados não
acreditavam na pureza de seus gestos. E se os afoitos em concluir
orgasmos os vissem rolando na cama juncada de pétalas de rosas de
várias nuanças durante os dias e as noites das quatro estações ou à
sombra das árvores, diante dos olhares cúmplices dos guardiões das
matas, certamente diriam que eles eram uns devassos, ou, no mínimo,
não pertenciam ao reino deste mundo de time is money, de ser é ter.
Pulavam as porteiras de sítios e chácaras em busca das mais belas
flores, para a alegria dos cães solitários encarregados de proteger a
propriedade privada. Cães sabidos, que reconheciam as pessoas de
sentimentos puros, lambendo-lhes as mãos, abanando os rabos em sinal
de amizade e cumplicidade. Era um encontro de alegria mútua, pois eles
sempre tinham um naco de pão para ofertá-lo em troca da liberação da
área. Saiam com as mãos carregadas, tendo sempre o cuidado de não
ferir as plantas, atentos para não recolher todas as flores, deixando
muitas enfeitando os jardins. Saiam com um sorriso de felicidade
estampado, carregando-as com leveza, beijando-as e se beijando.
Mas a vida dá muitas voltas e o que parecia ser uma felicidade
eterna não se confirmou. Em uma noite de lua cheia, quando os
corações ficam afoitos e os desejos descontrolados, eles entraram na
barraca e o que ninguém poderia imaginar aconteceu: eles não se
entenderam. Ela recusou suas carícias e seus beijos, fugiu de seus
abraços, destruiu as flores colhidas, que adornaria seus corpos na
longa noite de amor. Em seguida, levantou-se e com um estranho brilho
nos olhos olhou-o fixamente. Este olhar penetrou no mais profundo do
seu âmago, provocando-lhe um transe. As feições dela foram se
transformando lentamente e ele, petrificado diante daqueles olhos
transmutados sentiu-se exausto. Sentou-se sem conseguir desviar os
olhos da face da amada. Antes de perder os sentidos viu-a fugir da
barraca e ouviu um grito descomunal cortando a noite de lua cheia.
Ele anda agora solitário pelas estradas do Vale das Acácias, com
os olhos fixos no infinito. Uma vez ou outra observa as plantas e com
a voz rouca fala:

É uma pena você não estar aqui
para ver as rosas desabrochando,
as alamandas se alastrando.
É uma pena você não ter a felicidade
de pegar a terra com as mãos,
ver os hibiscos vestidos de vermelho e rosa,
as jabuticabas maduras,
o jardim iluminado por um relâmpago engravidando a terra
e de ouvir o estrondo do trovão num grito de prazer.
É uma pena você não ver
a alegria das coisas simples
como a luz dos vaga-lumes,
o canto dos pássaros
e o barulho da chuva
na terra,
nas folhas,
nas flores.
É uma tristeza de cortar o coração vê-la na clausura,
Deixando de ver tanta beleza."

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Clevane, hoje fiz uma visita em seu sítio. Li algumas crônicas (...)
Segue uma crônica de Filhos da Terra, para sua leitura crítica, ou de
prazer.
Tento viabilizar o lançamento ainda este ano, se possível um
duplo lançamento: Todos os Dias são Úteis (poesia).
Saudações poéticas. Adorei seus textos. A página é leve, solta e
agradável. Parabens.
J. Estanislau Filho (o de Crônicas do Cotidiano Popular)

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