segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
Andreia Donadon(Deia Leal ) :"Artes Visuais-A Linguagem do Terceiro Milênio"
Imagem:tela "FLORA",de Deia Leal(Andreia Donadon) e foto da artista e escritora.
ARTES VISUAIS – A LINGUAGEM DO TERCEIRO MILÊNIO
Por Andréia Donadon Leal*
Arte é contemplação, um dos meios mais poderosos e eficazes de chegar à consciência humana e tocar os sentidos do indivíduo.
O crescente desenvolvimento de recursos eletrônicos, como a computação e a internet, dará continuidade às transformações ininterruptas das linguagens artísticas.
Até meados do século XX se pensava exclusivamente em Artes Plásticas, que era sinônimo de pintura e escultura. Artes Visuais não contempla somente estes dois processos artísticos, mas toda e qualquer modalidade de arte que requer um recorte semiótico da visão para construção de sentido, ou seja, observação, pesquisa, experimentação e análise de obras visuais modernas e contemporâneas, reunindo – pintura, escultura e as novas linguagens decorrentes dos meios de reprodução mecânica, como a fotografia, o cinema, o design e a moda. Ou seja, a área das artes visuais é extremamente ampla, pois abrange qualquer forma de representação visual (cor e forma). Como conceito de Artes Visuais surge concomitantemente ao conceito de polifonia, nos estudos da enunciação do discurso e da recepção, a tendência da arte visual é provocar cada vez mais a participação dos espectadores no processo de significação e de sentido numa época marcada pelo dinamismo da vida urbana e desenvolvimento de recursos eletrônicos.
Arte é contemplação, um dos meios mais poderosos e eficazes de chegar à consciência humana e tocar os sentidos do indivíduo.
Em uma breve visada na história da arte; retrocedemos aos meados do século XIX, em que tanto a produção de pintura, escultura e arquitetura quanto à produção dos mais variados objetos nas artes aplicadas eram baseadas em modelos e estilos provenientes do passado, como o clássico, o gótico e o barroco. O gosto europeu era dominado pelos ideais estéticos difundidos nas Academias de Belas-Artes, onde se perpetuavam os padrões formais do passado, que eram copiados e muitas vezes misturados entre si na confecção de objetos, por isso considerados ecléticos.
A partir da segunda metade do século XIX houve um grande avanço técnico no processo fotográfico, exercendo assim influência sobre as novas concepções artísticas. A fotografia estava prestes a assumir a função da arte pictórica e isso acarretou num duro golpe para os artistas que se viram cada vez mais compelidos a explorar regiões onde a fotografia não podia acompanhá-los. As obras impressionistas de artistas como Claude Monet e Auguste Renoir diluíram os contornos de figuras humanas e paisagens, criando um novo paradigma na técnica e estética da pintura. Isso preparou terreno para o abstracionismo, a negação total da arte renascentista. Ora, se a máquina fotográfica produz imagens mais verossímeis, então o valor de um pintor já não dependeria de seu virtuosismo acadêmico, mas sim de sua investigação nos processos de percepção e a função estruturante da cor, aspectos que diferenciavam a sua atividade de um fotógrafo.
Podemos considerar também como impacto dos meios de reprodução mecânica as conseqüências do advento do cinema que, como a fotografia, determinou profundas transformações na psicologia da visão humana e no próprio sentido do que seriam, ou não, imagens realistas. O cineasta russo Sergei Eisenstein lançou as bases do cinema moderno ao introduzir o conceito de montagem (o filme O Encouraçado Potemkin-1925), o modo como se juntam duas imagens no cinema. Ele justapõe imagens diferentes para criar significados na narrativa, conferindo força e agilidade à linguagem cinematográfica. A técnica usada pelo cineasta Orson Welles (o filme Cidadão Kane-1941) caiu como uma bomba nos meios cinematográficos por suas múltiplas transgressões, pois permitia colocar os autores em diferentes planos de profundidade numa mesma cena. A formação de uma indústria cinematográfica, tanto quanto a formação de uma indústria gráfica e de uma indústria de moda, revelam a dimensão que o modo de produção industrial alcançou no século XX. O diálogo entre a produção de artistas e produção de fotógrafos, cineastas, designers, estilistas e figurinistas foi tão intenso que às vezes tornou-se difícil distingui-los.
Podemos citar o grande interesse dos artistas modernos pelos meios da fotografia, do cinema e da produção seriada de objetos ou impressos. Característicos de uma época definida pela reprodutibilidade mecânica, pela transformação das cidades em metrópoles industriais, pelo consumo e entretenimento em massa. Esses meios significavam um caminho diferente daquele apontado pelo sistema tradicional de belas-artes e do artesanato e mais próximos ao dinamismo da vida urbana.
Cito as relações entre os cartazes publicitários da virada do século XIX para o século XX. A substituição contínua dos impressos pelas ruas correspondia a novas condições de sociabilidade, consumo e apreciação estética, diferentes daquelas ligadas às formas e técnicas acadêmicas. Os cartazes foram gerados para um tipo de sensibilidade dispersa no ritmo acelerado do cotidiano, com linguagem visual tipicamente urbana, de informações sintéticas, forte apelo cromático e reduzido conteúdo verbal. Identificamos a sua proximidade com a pintura impressionista e pós, de pinceladas rápidas, sensíveis aos estados efêmeros da luz e à beleza fugaz das situações e dos habitantes urbanos.
Toda linguagem em uso rotineiro tende a reduzir sua expressão de superfície, pois aquilo que já faz parte do conhecimento partilhado deixa de ser repetido. Assim, os implícitos na linguagem deixam de ser explicitados, para que se evitem redundâncias. Nas Artes Visuais dá-se o mesmo. Elementos já conhecidos não precisam mais fazer parte das pinturas, basta que esse indício seja dado para que a possibilidade de sentido seja instaurada.
As diversas tendências (vanguardas históricas) constituíram um momento muito fértil das relações interdisciplinares no campo da visualidade, sobretudo no período entre a primeira e a segunda guerra mundial. A superação de limites técnicos e formais no interior de cada atividade e entre as diferentes atividades foi uma característica das vanguardas: pintura, escultura, literatura, música, figurino, teatro, cinema, fotografia, design e arquitetura foram questionados e interligados. As vanguardas foram cruciais no momento de radical experimentalismo na abertura de possibilidades para a criação visual no século XX. No período posterior à segunda guerra mundial, destacamos o surgimento de uma visualidade envolvida com a consolidação da indústria cultural, que ocorrera baseada, sobretudo na expansão dos mass media e nos mecanismos inerentes à sociedade do consumo e do espetáculo. Referimos ao advento da pop art e à trama de relações que a partir dela sugere. O termo “pop” alcançou, para além da esfera artística, um significado mais amplo no contexto da cultura de massa. Associado à atmosfera juvenil, às tendências descartáveis na música e na moda. Assim, surgiu na década de 1960 o que se pode chamar de pop design, produção que lidava diretamente com as novas condições contemporâneas de experiência e consumo. Os produtos pop eram concebidos como objetos coloridos, às vezes divertidos e quase sempre pouco duráveis, confeccionados com materiais baratos como o plástico.
A produção visual contemporânea tem sido marcada por influências e diálogos entre essas diferentes atividades.
Muitas das manifestações artísticas recentes, como a land art, a arte conceitual, a performance e a videoarte, têm produzido e propagado as suas obras nas linguagens da fotografia e do vídeo. A fotografia e o vídeo tornaram-se meios característicos da arte contemporânea, mais freqüentes, inclusive, que os meios da pintura e da escultura. E o crescente desenvolvimento de recursos eletrônicos, com a computação e a internet, dará continuidade às transformações ininterruptas das linguagens artísticas, do mesmo modo que a expansão das novas tecnologias nas áreas específicas do design, da moda, do figurino, do cinema e da fotografia irá também colaborar para aproximações à arte.
O futuro das artes visuais passará pelo cruzamento de qualquer forma de representação visual, isto é, pintura, escultura, moda, arquitetura, design, fotografia, cinema, etc. Se existiram diversas tendências e fertilidade na mente das vanguardas históricas, que nasça a mesma ousadia e mola impulsionadora de gestar e parir criações capazes de acompanhar o constante desenvolvimento e expansão de novas tecnologias na área das Artes Visuais.
*Andréia Donadon Leal
Graduada em Letras pela UFOP
Bacharel em Estudos Literários
Pós-graduanda em Artes Visuais – Cultura & Criação
Mais sobre Deia Leal:
http://www.redescritoresespa.com/A/andreialeal.htm
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