sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
João de Abreu Borges:"Festa da carne, dos Ossos e da Alma"
O editor (Urbana Editora e Ano Um,jornal virtual), poeta , esteta, palestrista, revisor,compositor (veja abaixo, quando fala da escola de samba UNIDOS DA TIJUCA), ensaísta e , o que é melhor, meu amigo,, depois que editou meu "Mulheres de Sal, Água e Afins",de contos, contou-me,por e-mail, sua emoções neste carnaval.Gostei tanto que lhe pedi para mandar em forma de texto, pois queria compartilhagens, compartilhamentos com os leitores desse blog e dos outros.
E chegou-me, há pouco, o depoimento da vivência, ossos, carne, alma e coração.Em ritmo de samba...Leiam-no e vão gostar,por ser genuíno e bem escrito.
Clevane Pessoa de Araújo Lopes
O site dele é uma beleza (onde estou, por ele entrevistada em 2007):
http://planeta.terra.com.br/arte/cancaodoser
Aí está:
FESTA DA CARNE, DOS OSSOS E DA ALMA
O carnaval, como tudo na vida, tem várias faces, várias possibilidades de ser visualizado ou vivenciado. Não há magia, nem mágica. Há saúde, há saudade. Em coro, tantas pessoas cantam e dançam juntas que a gente pensa estar em meio à conquista da Terra pelos seres humanos bons.
Aqui, segue um pequeno olhar de dentro para fora do carnaval carioca, com destaque especial para o desfile na Avenida Marquês de Sapucaí, onde a carne é o sol, os ossos são as estrelas e a vida é toda a luz do universo concebível, seja por nosso medo ou por nossa coragem. O importante é a luz, desde a primeira, aquela luz que vem dos fogos que explodem terrivelmente na hora da entrada de cada escola na avenida. A quilômetros de distância, vêem-se os clarões e a imensa fumaça com cheiro de fogo colorido, chuva pictórica e brilho de adrenalina na alma.
Na Império da Tijuca (sábado de carnaval, 24:00h, Grupo de Acesso, ou seja, Segundo Grupo), assim como na maioria das escolas, a Ala de Compositores se dilui pelo desfile para ajudar o trabalho dos Diretores de Harmonia, que são responsáveis pela arrumação das alas durante o tempo do desfile, daí que é difícil nós, compositores, sermos vistos pelo público, porque a gente fica meio que trabalhando, meio que desfilando, para lá e para cá, ajeitando as coisas que necessitam ser mexidas, mesmo já durante o decorrer do desfile, tais como empurrar um carro alegórico... ou ajeitando a fantasia que desmancha em algum ponto de repente... ou alguém que está desfilando mas não está cantando o samba-enredo... por aí...
Já na Unidos da Tijuca (segunda-feira de carnaval, 22:00h, Grupo Principal), os compositores ficam só na curva de entrada da avenida cantando e incentivando os componentes a botarem garra ali no começo da batalha, até que entra o último carro e nós, honrosamente, desfilamos atrás deste último carro, o que nos dá pouca visibilidade também, mas eu não estou nem aí, sou um dos compositores que mais pula e canta, porque a festa da carne (carnevale) me domina da cabeça aos pés (enquanto meu cavaquinho fica em casa, choroso, esperando eu voltar para os meus sambas de velha guarda e de raiz...).
Amanhã, sábado, dia 9, a Unidos da Tijuca vai para o desfile das campeãs na Avenida Marquês de Sapucaí, porque ficou num honroso 5º lugar, deixando para trás várias grandes escolas e perdendo para outras não menos grandes como a Beija-Flor (campeã) que estava sensacional, e o Salgueiro (vice-campeã) que talvez merecesse ganhar. Nós, da Unidos, estaremos desfilando por volta de 22:30h...
Ninguém dança sobre cadáveres, mesmo nessa cidade tão violenta como o Rio de Janeiro, porque temos consciência de que a dança, a festa, a música, o espetáculo quase bacanal e apolíneo, são uma resposta positiva para toda a agonia do que temos vivido nos outros 361 dias do ano.
Talvez a resposta para tudo esteja na fantasia, ainda mais se fizermos nossos os versos de Cecília Meireles: “A vida só é vida / quando reinventada”...
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João de Abreu Borges:"Festa da Carne
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