quarta-feira, 9 de abril de 2008

Enquanto ouço Aqua



Ontem , no Palácio das Artes, dia de Terças Poéticas", quando se apresentou Odete costa Semedo (da guiné Bissau) , que leu seus poemas, inclusive alguns em creolo e com delicioso sotaque português, lançou seu "No Fundo do Canto, (pela editora Nandayala) e homanageou Florbela espanca,encontrei, entre os poetas presentes, o psicólogo Carlos Farias,músico e compositor que trabalha com as lavadeiras do Jequitinhonha.
Com elas já gravou os CDs "Aqua" e "Batukin Brasileiro".Com elas viaja, elevou seu status e tem por elas o orgulho de um filho amado.
Contou-me da tese abaixo,de Sâmara Rodrigues de Ataíde, mestranda em Literatura Portuguesa pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ – e em Ciência da Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e hoje, manda-me o texto.Leiam, visitem , vale a pena.nele, a mestranda compara as cantigas de Almenara, da lavadeirinhas, às Cantigas d'Amigo do português medieval.
Sempre acabo doando meus Cds (dos citos) e ontem ,a dquiri-os novamente.Ouço "Aqua", neste momento e é uma delícia ouvir a con/sonância destas vozes femininas somadas à participação especial de Rubinho do vale e Pereira da Viola, além da cita no texto abaixo, Crisolina Guimarães.

Quem tiver de dar presentes, é uma boa pedida:são livros-álbuns, de muito bom gosto, em papel couché, capa dura e fotos belíssimas, onde os cds estão oinseridos em encarte.Beatriz farias é responsável pela feliz direção artística do trabalho.
carlos farias fez da pesquisa aos arranjos,Angelo rafael tem a Direção Musical, Andreson Clayton é o assitente de produção, Carlinhos Ferreira a direção de Percussão
A produção executiva é de Jucélia Alves.

Para a gravação, Aqua reúne, Peron Rarez( engenheirode masterização), Carlos Faria , Luiz Peixoto e Ângelo Rafael na mixagem).
Jéferson, Dermeval Filho (Dedé )e Luiz Peixoto, são os técnicos de gravação desse belo produto.

O e-mail de Carlos, para notícias e aquisição dos Cds:carlosfarias@terra.com.br

Outros e-mails:
epovaleeventos@yahoo.com.br

Clevane Pessoa de araújo Lopes
Diretora Regional do InBrasCi em Belo Horizonte, MG

"Pois é, amigos,
a cultura popular do Vale do Jequitinhonha continua encantando as pessoas sensíveis. Leiam e divulguem o texto abaixo.

Cordialmente,

Carlos Farias"
http://www.myspace.com/carlosfariasmaxakali
http://www.myspace.com/lavadeirasdealmenara

----- Original Message -----
From: epovale produções artísticas epovale
Subject: Dissertação sobre a música das Lavadeiras

"A obra musical das Lavadeiras de Almenara e do compositor Carlos Farias viraram objeto de estudo e continuam influenciando outros artistas e estudiosos da cultura popular, em diversas partes do Brasil e do mundo. Vejam o texto abaixo, da autoria da professora Sâmara Rodrigues de Ataíde, publicado, também, no sítio http://www.coraldaslavadeiras.com.br

Saudações culturais!

Jucélia Alves / Epovale Eventos



Rua das pedrinhas e Ai flores do verde pinho: um diálogo possível

(Por Sâmara Rodrigues de Ataíde, mestranda em Literatura Portuguesa pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ – e em Ciência da Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ)

Embora desmereçam, muitas vezes, a atenção dos especialistas, por serem consideradas em gênero menor, as composições que são ouvidas, contadas, recitadas ou cantadas pelo povo pertencem ao acervo de uma nação.
Se partirmos do pressuposto de que a cultura trovadoresca ainda permanece nos nossos dias, mesmo no Brasil, que não vivenciou a Idade Média, segundo os valores da civilização européia ocidental, podemos considerar o repertório de Carlos Farias e do Coral das Lavadeiras de Almenara como uma transformação e extensão do cancioneiro medieval trovadoresco. Nas cantigas recolhidas pelo pesquisador e folclorista preserva-se a principal característica das cantigas de amigo medievais: o sentimento feminino que exprimem.
Sendo transmitidas ao longo do tempo, de geração em geração, as canções sofreram transformações com supressões e até mesmo adições, mas ainda assim podemos estabelecer similitudes como o ambiente rural descrito nas cantigas, a presença da natureza, a mulher camponesa/lavadeira tendo como confidente um elemento da natureza personificado. A estrutura de diálogo e a utilização do refrão ou estribilho (repetição de versos) e do paralelismo (construção que se repete com pequenas alterações a cada estrofe) são características facilmente percebidas.
Produzidas em épocas diferentes, separadas por séculos, podemos estabelecer alguns elementos aproximativos entre as cantigas a seguir:
“_ Ai, flores do verde pinheiro,/
Se por acaso sabeis novidades do meu amigo,/ Ai, Deus, onde está ele?” (Dom Dinis. Antologia da poesia galego-portuguesa. Porto: Lello & Irmão, 1977.
“Lá na rua das pedrinhas, oi cio
Onde fui fazer minhas “queixa” oi cio
As pedrinhas responderam oi cio
O amor é firme não lhe deixa só” (Informante: Crisolina Guimarães e Lia Lavadeira. Carlos Farias & o canto das lavadeiras . Batukim brasileiro. Estúdio Via Sonora: Belo Horizonte, maio a setembro de 2001).

Nota-se que em ambas as composições temos um eu lírico feminino, ou seja, uma voz de mulher, dialogando com elementos da natureza (o pinheiro na primeira e as pedrinhas na segunda). Estes elementos, maravilhosamente, respondem às suas interlocutoras que o amado/namorado se encontra vivo e com saúde e que, não faltando à sua palavra, estará com a namorada/amiga no prazo combinado.

-Vós perguntais pelo vosso amado?
Eu bem vos digo que ele está vivo e são.
Ai, Deus, onde está ele?

Vós perguntais pelo vosso amado?
Eu bem vos digo que ele está vivo e são.
Ai, Deus, onde está ele? (D. Dinis)


Por baixo da água é lodo oi cio
Por baixo do lodo é peixe oi cio
Meu benzinho fica ciente oi cio
Que por outra eu não lhe deixo oi cio
(Carlos Farias & Coral das Lavadeiras de Almenara)

"Ambas as cantigas expressam um sentimento amoroso. A cantiga de amigo trovadoresca medieval (D. Dinis) é uma das mais conhecidas da literatura portuguesa, apresentando uma situação curiosa em que o eu lírico dialoga com um pinheiro solicitando notícias do amigo (namorado ou amante) que a deixou.
A cantiga de roda entoada pelo Coral das lavadeiras, Rua das pedrinhas, retrata a mesma situação, o eu lírico feminino interroga e queixa-se à Rua das pedrinhas quanto à intensidade do amor e, por sua vez, as pedrinhas lhe respondem que não há motivo para lamentações e preocupações, pois “o amor é firme e não lhe deixa só”.
Portanto, nas duas cantigas referidas neste breve ensaio, o eu lírico se dirige a elementos feminilizados da natureza: flores/pedrinhas. Outro aspecto semelhante observado é o fato de que as duas cantigas possuem sua origem na inspiração popular, o que explica sua linguagem fácil, ou seja, menos rebuscada e mais musical, destinando-se ao canto e à dança.
Geralmente mais populares, as cantigas de amigo não se ambientam em palácios e sim em lugares mais simples, como o campo, por exemplo. Mostram freqüentemente, cenas do cotidiano, em que a moça vai lavar roupa, vai a uma romaria ou freqüenta uma festa. Além disso, expressam uma visão mais “realista” do amor, pois é colocado no plano terrestre dos desejos humanos e da sensualidade.
Ao se pensar na valorização do patrimônio cultural e do popular da região do Vale do Jequitinhonha, bem como na sensibilização quanto à preservação dos valores culturais da região a ser pesquisada, torna-se instigante o fato de que um grupo de pessoas submetido a situações tão adversas continue mantendo práticas e modo de viver seculares que nos saltam aos olhos devido a sua singeleza ingênua e bela".


Obs.:" Este é um texto adaptado e faz parte de um projeto maior, escrito na ocasião do exame de seleção para o Mestrado em Literatura Portuguesa na UERJ cuja dissertação será apresentada em março de 2009. Como o processo seletivo envolvia, em suas diversas etapas, o julgamento a respeito da pertinência da abordagem e do corpus escolhido, bem como uma entrevista realizada com professores da instituição, a cantiga “Rua das pedrinhas” foi de extrema importância para que pudesse lograr êxito no concurso. Contendo características visivelmente equiparadas às cantigas de amigo medievais, emocionou aqueles que participaram do processo. A aprovação do projeto logrou êxito, tendo conquistado os primeiros lugares dentre as vagas disponíveis. Vale dizer que o interesse de conhecer “mais de perto” Carlos Farias e o Coral das Lavadeiras de Almenara foi manifestado por todos os presentes tocados pelo encantamento provocado pela voz de Dona Crisolina Guimarães em uma interpretação singular"

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